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SULCO
depA

Porta de Lamas de Mouro / Melgaço

gps 42.03952,-8.19545






A soberana força do espaço envolvente da Porta de Lamas de Mouro nasce do poder natural e da poética dos elementos que a desenham: os cursos de água pura, os prados em manto verde, a massa dos corpos arbóreos e, finalmente, os pinheiros, a urze e a carqueja que tintam granito acima pelos penhascos que nos envolvem num horizonte muito próximo. A intervenção proposta potencia, de forma progressiva, uma interação com todos estes elementos: o sulco linear, no terreno, induz o utilizador a descer e a envolver-se com o solo, a água e o ambiente alagadiço da charca, entre musgos, seixos e juncos, proporcionando uma proximidade e uma perspetiva ímpares. Ao percorrer o sulco, o utilizador ascende de novo à superfície sendo conduzido a uma segunda peça marcada por dois elementos verticais que, através da densidade dos troncos, do som das ramagens e dos jogos de luz e sombras do vidoeiro, o atira para um trilho e o leva, finalmente, pelo maciço montanhoso. Estar no Gerês é estar em confronto com o poder da Natureza. Os autores, ao desenharem a peça, procuraram exponenciar esse confronto, não limitando o seu desenho (que é impositivo) nem a sua utilização (que é intrusiva, experimental) a uma experiência apenas contemplativa, passiva e distante, nem resumida à experiência do olhar. Todos os sentidos são postos em ação numa experiência submersiva e subversiva perante a Natureza. Também o desenho da peça retrata esse confronto: sulca, rasga, marca o solo de forma racional, reta, assertiva, antinatural. É a força e a razão do desenho e da técnica do Homem a subjugarem aquele tempo e aquele lugar. Mas a peça prevê, por outro lado, que esse mesmo tempo e lugar, em dias incertos, possa subjugar a peça (e o Homem), a sua envolvente e o acesso à montanha, inutilizando-os pela força da sua água ou o assobio do seu poder. Um dia esse tempo (essa Natureza) poderá até, para sempre, transformá-la ou levá-la destruída. Não deixou de ser irónico, aliás, o xadrez jogado entre a técnica necessária à sua construção e a força que rosnou desde cedo das entranhas do solo. Afinal, a convicção do confronto cedo se confirmou.


Axonometria explodida construtiva da intervenção



Material
Chapa de ferro e madeira.
Dimensões
0.8 x 1.8 x 15.8 m (sulco).
0.8 x 2.8 x 1.5 m (mira).
Técnica
Chapas de ferro quinadas
em U e acopladas criam o canal artificial e linear que sulca o solo, em confronto com a Natureza.

Secção transversal do sulco

SOBRE OS AUTORES

Formado no Porto e explorando a complementaridade dos seus elementos, o depA é um espaço de discussão e criação arquitetónica, tanto na sua forma de projeto como nas suas variáveis interdisciplinares. O depA tem desenvolvido projetos de arquitetura das mais variadas escalas e elevados graus de exigência, de encomenda tanto pública como privada. Desses trabalhos, destacam-se o Pavilhão do Lago, vencedor do Prémio FAD 2018, na categoria Projetos Efémeros; a Casa do Rosário, no Porto, distinguida com uma menção honrosa no Prémio Nuno Teotónio Pereira 2017 (IHRU), vencedora do prémio Under 40 da Concreta, obra finalista do Prémio Nacional de Arquitetura em Madeira 2017 e Prémio Internacional de Arquitetura BIGMAT 2017 e obra selecionada nos prémios ENOR 2017; a Casa da Cultura de Pinhel, finalista dos Prémios FAD 2015, Prémio Melhor Trabalho de Museografia, Menção Honrosa para Melhor Museu Português da APOM em 2016 e obra selecionada pela Ordem dos Arquitetos para a coletânea Habitar Portugal 12-14; e o Bloco do Avenal, em Condeixa-a-Nova, Menção Honrosa no Prémio de Tijolo de Face à Vista Vale da Gândara 2013. Para além da encomenda pública e privada, o atelier tem desenvolvido uma intensa pesquisa projetual através da participação em concursos internacionais, nos quais se destacam o 1.º prémio para a elaboração do projeto do futuro Museu de Arte Contemporânea Santiago Ydáñez (2010), em Jaén, Espanha, o 2.º prémio no concurso para a reabilitação da casa da Quinta de Baixo (2014), promovido pela Águas do Porto EM, no Porto, e o 1.º prémio no concurso para a elaboração do projeto das Ligações Pedonais Mecanizadas nas encostas do Palácio de Cristal, Miragaia e Virtudes na cidade do Porto.

www.depa.pt
SOBRE O LUGAR

Inaugurada em maio de 2004, a Porta de Lamas de Mouro, em Lamas de Mouro no concelho de Melgaço, é uma estrutura de receção, interpretação, animação e educação ambiental que faz parte de um projeto mais alargado, denominado “Portas do Parque Nacional da Peneda-Gerês (PNPG)”. Este projeto integra uma Porta por cada concelho que compõe o território do PNPG, num total de cinco. O visitante dispõe de uma exposição onde são apresentados aspetos genéricos da região, bem como informação sobre percursos pedestres, valores naturais e culturais do PNPG. Pode ainda visitar a exposição temática “Ordenamento do Território”, onde se abordam as especificidades naturais e culturais do território de Melgaço, com especial incidência para a história, organização e ocupação dos solos. O espaço exterior presta-se a descanso e a passeios junto ao rio Mouro.



Charca, Porta de Lamas de Mouro, Melgaço

Implantação da peça