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A TORRE
STILL urban designMiguel Seabra

Castro de São Caetano, Longos Vales / Monção
gps 42.04023, -8.44453





O local suscitou desde logo uma intenção clara: trabalhar com o lugar, a paisagem e o contexto próximo – o castro – tanto quanto o longínquo – a paisagem do vinho verde. Tornou-se imperativo que a peça reivindicasse, de alguma forma, essa ancestralidade da ocupação do território por parte do homem, na sua evolução arquitetónica, produtiva e simbólica. Do menir ao cruzeiro, ou à torre, o Homem sempre teve a necessidade de pontuar o horizonte e marcar o território com a sua presença. A peça criada é uma reinterpretação contemporânea dessa intenção. O círculo aliado à verticalidade torna-a presente desde longe, integrado no contexto pela sua forma e cor exterior. Só na caminhada começa então essa revelação do interior, vibrante, aberto ao céu, cheio de luz, e que termina numa escalada até ao topo focando a paisagem vinhateira, os vales e montanhas de Monção. A peça apresenta-se com uma forma tubular, ereta, composta por anéis pré-fabricados de betão, modulares, permitindo ser contemplada pelo seu exterior e vivenciada pelo seu interior. A nível construtivo e iconográfico, pretende-se estabelecer uma ligação formal com as construções castrejas – circulares – colocadas, a maior das vezes, em locais elevados na paisagem. Na sua dimensão simbólica, a forma quer estabelecer a relação do terreno com o espiritual. O círculo, sendo a forma “total” – sem princípio nem fim – aparece associada ao divino e à eternidade; é símbolo do céu na sua relação com a terra e, portanto, traduz a relação do espiritual com o material.


Fotomontagem da proposta em fase de projeto, estudos de luz


Material
Betão armado e aço.
Dimensões
ø1.5 x 5.0 m.
Técnica
Sobreposição de anilhas de betão armado pré-fabricado, sobre afloramento rochoso. Superfície exterior em betão à vista; interior pintado. Escada e banco metálicos.


Fotomontagem da proposta
em fase de projeto

SOBRE OS AUTORES

A STILL urban design é um estúdio de urbanismo e arquitetura sediado no Porto. A sua atividade principal foca-se no desenho urbano e na reabilitação bioclimática de espaços exteriores, destacando-se os projetos 3.º Prémio no Concurso Internacional “Parque Lineal Ferrocarril de Cuernavaca”, na Cidade do México (MX), e o projeto de reformulação e redesenho do espaço exterior do edifício administrativo da LIPOR, no Porto. Paralelamente, a STILL urban design integra a equipa do coletivo HODOS. Sofia Pera é licenciada em Arquitetura pela Escola de Arquitetura da Universidade do Minho e Mestre em Urbanismo pela Universidade Politécnica da Catalunha e pelo Instituto Universitário de Arquitetura de Veneza. É cofundadora e responsável pela STILL urban design.

www.stillurbandesign.com

Miguel Seabra vive e trabalha no Porto, é licenciado em Artes Plásticas – Escultura pela Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto, e foi coautor do projeto artístico Artemoferas, In’Side Out, e Atelieres Mompilher onde fez curadoria sobre arte emergente. Integrou outros projetos como 0foundation (internet art) e Fictionary Players relacionados com arte multimédia e performance. É especializado em escultura (metais), vídeo, fotografia e performance. Expõe regularmente desde 2000, tendo apresentado o seu trabalho em diferentes exposições e projetos nacionais e internacionais.

www.miguelseabra.com


SOBRE O LUGAR

Longos Vales é uma freguesia pertencente ao concelho de Monção, localizando-se na margem esquerda do rio Minho. O castro de São Caetano é um sítio arqueológico localizado nesta freguesia, no lugar de Outeiro, situado no monte com o mesmo topónimo, oferecendo amplo domínio visual sobre o vale do rio Minho e a paisagem vinhateira. Trata-se, assim, de um importante povoado fortificado, e é considerado um dos espaços nucleares dos grandes povoados proto-históricos do Noroeste da Península Ibérica, tendo sido classificado como Monumento Nacional. O povoado foi implementado num pequeno planalto de planta subcircular e no topo norte foi erigida a Capela de São Caetano, em meados do século XVIII, segundo a tradição, por promessa de Francisco Vaz, após ter sido curado da malária que contraiu durante as suas viagens. Este edifício, de arquitetura maneirista, que podemos visitar hoje é já fruto de uma remodelação por iniciativa da Companhia de Jesus, sendo dedicado a Caetano de Thiene. Num dos pontos mais altos, existe ainda um cruzeiro, a partir do qual se consegue ver o extenso vale até ao rio Minho, o castro que se desenvolve por todo o monte, as estruturas habitacionais e a capela. Sendo o castro um dos primeiros assentamentos humanos de Monção, permite ao visitante o contacto com a ancestralidade da ocupação do território de Monção pelo homem e a própria evolução da paisagem ao longo dos tempos.

Castro de São Caetano, Longos Vales, Monção


Implantação da peça