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VER ATRAVÉS DA ÁRVORE
Dalila Gonçalves

Caminho das Piçarras, Romarigães / Paredes de Coura 
gps 41.86264, -8.60832







Na primeira visita ao local onde se encontra a peça “Ver através da árvore”, Dalila Gonçalves retomou a memória da caminhada a Santiago que fizera muitos anos antes. Lembrou-se do movimento duro da descida que se segue a uma desgastante subida, da pedra – junto à qual está a sua peça – como um momento de pausa, das árvores e da mata que pautavam o caminho. Tentou perceber ao máximo as sensações e as características do local para que, através dessa relação emocional, pudesse conceber uma peça para o local. De certo modo, de forma mais ou menos inconsciente, acredita que estas memórias estão dentro da sua escultura. A obra tem uma relação bastante direta com os materiais do lugar, com a verticalidade da floresta e com o movimento descendente e em curva do caminho. A artista procurou agarrar nas características do espaço, organizá-las de outra maneira e devolvê-las ao ponto de partida. Acentuou o movimento e a curva do caminho pela forma e pela disposição das árvores numa espécie de fole. Um fole de madeira que podemos imaginar a correr e a desenhar a paisagem como um portão sobre a calha da sua base. As tábuas na vertical guardam em si os contornos e as “imperfeições” das árvores que lhe deram origem, como se as abríssemos para que as pudéssemos ver por dentro. Por entre as tábuas, há frechas que deixam passar os raios de luz e projetam as suas sombras. Não as podemos fechar nem mover, mas podemos ver através delas, como se espreitássemos com um olho cerrado por detrás de uma árvore. Um jogo de contacto com a natureza, de refúgio, de aparição e esconderijo como um qualquer jogo de criança que, ao mesmo tempo que se esconde, procura, através de um olhar analítico, o que está para lá da montanha. Conceber objetos que nem sempre implicam a transformação real das coisas, que se concretizam, em muitos casos, pelo simples uso inesperado, irónico, absurdo ou metafórico da matéria, faz parte do processo de trabalho da artista. Pela subtileza da informação utilizada, pela natureza dos materiais, ou pelo simples modus operandi são frequentes os jogos  com a própria “perceção” e a ideia de “evidência”. Será, porventura, nestes momentos de estranheza, nessa espécie de fronteira entre a realidade física e a ficção, que são ativados os mecanismos do sentir e do pensar que aferem significado ao objeto artístico.

Seleção de árvores em serração



Esquema de corte e aproveitamento das pranchas de madeira


Material
Madeira e aço.
Dimensões
8.0 x 2.5 x 5.5 m.
Técnica
Pranchas de 6cm de espessura de madeira de pinho tratada, estrutura em PRS de aço ancorada por bucha química ao maciço rochoso.


Detalhe do processo de montagem
SOBRE A AUTORA

Dalila Gonçalves é licenciada em Artes Plásticas-Pintura e Mestre no Ensino de Artes Visuais, pela Universidade do Porto. Foi selecionada para a II edição do Curso de Fotografia do Programa Gulbenkian Criatividade e Criação Artística, bolseira do programa Inov-art em Barcelona no atelier do artista plástico Ignasi Aballí, artist-in-Residence Programme KulturKontakt Austria e participou na residência Inclusartiz, Rio de Janeiro. Expõe regularmente em instituições e em galerias em diferentes países da Europa e da América do Sul. Das suas exposições, destacam-se as realizadas em: Centro de Artes de Alcobendas, Madrid; Fondation Hippcréne e Centrequatre, Paris; Tabacalera, Madrid; na Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa; no Centro de Arte Contemporânea Conservera, Murcia, Espanha; no Museum of Contemporary Art in Roskilde, Dinamarca; Centro SUBTE, Trienal Beufort04 na Bélgica. Participou, entre outras, nas feiras Arco Madrid (solo Show); ArteRio, SPArte (solo show), ArtBO, Zona MACO e ArtLima,Vienna Artfair; Artissima (Turim, Itália); Untitled Miami (USA).

www.dalilagoncalves.com

SOBRE O LUGAR

No centro do distrito de Viana do Castelo, em pleno Alto Minho, surge o município de Paredes de Coura, com uma variedade de paisagens e lugares magníficos. No ponto mais alto do concelho, situa-se o Corno do Bico, na área da paisagem protegida com o mesmo nome. Paredes de Coura é, hoje, mais futuro do que história. Uma terra marcada pela inquietação e pela bravura, que aposta na economia e na preservação da natureza. Integrando a rota dos Caminhos de Santiago, tornou-se um ponto relevante de intervenção enquanto meio de leitura do território e de intercâmbio cultural. O local onde se decidiu colocar a peça encontra-se num ponto fundamental dos Caminhos de Santiago, por se localizar na fronteira dos concelhos de Ponte de Lima e Paredes de Coura, no final da subida íngreme da Serra da Labruja. Paredes de Coura é, assim, uma vila portuguesa que convida à descoberta e à experiência.



Caminho das Piçarras, Romarigães,
Paredes de Coura



Implantação da peça