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PORTA-CAÇA DO MOSTEIRO DE SANFINS
Barão-Hutter

Mosteiro de Sanfins / Valença

gps 42.03116, -8.58241




A intervenção, no Mosteiro de Sanfins, propõe a reposição de um ritual anual, uma vaga estória que compelia à consagração do primeiro javali e salmão aos frades do Mosteiro de Sanfins por forma de “reconhecença”. Os autores criaram uma série de artefactos para encenar, preparar e confecionar duas presas por intermédio de uma ação teatral. Com esta finalidade e para futuro usufruto da população, a dupla disponibilizou dois porta-caça e um fogareiro com os seus apetrechos de caráter quase litúrgicos na área do mosteiro para este uso. Tirar-se-á partido da situação particular de ruína do mosteiro e da sua tentativa de reposição. Durante algumas horas, o silêncio do local deverá ser quebrado apenas pelo som do cinzel que repõe a pedra ao mosteiro e pelo som dos que preparam e executam o ritual de forma solene, devendo mudar de tom à medida que seja cozinhado e servido, já em forma de festejo. As duas peças, quase escultóricas e não referenciais, localizadas à entrada do adro do mosteiro são a materialização de um facto lendário, tornando-se num “estandarte” e um ponto de paragem, observação e reflexão no lugar. A peça estabelece uma relação física com o lugar pela materialização de uma presença vigilante, como a de uma gárgula, uma entidade com forma grotesca e imperfeita que permite uma certa indagação, repúdio ou aceitação ou talvez até uma outra interpretação para a génese de uma nova estória. Os sistemas construtivos, materiais e acabamentos usados nas peças multifacetadas em pedra e aço são um déjà-vu e o conglomerado de diversas soluções simples e arcaicas desenvolvidas ao longo dos tempos. Prevaleceram na região ao sabor dos estilos, modos, modas, maneiras e gostos.

Material
Aço.
Dimensões
0.4 x 0.4 x 1.0 m.
Técnica
Bancos em chapa e barras de aço ligadas ao muro em pedra. Prateleira em chapa de aço e latão apoiada na guarda existente.
Esquiço da intervenção


Desenhos técnicos de fogareiro (corte)





Desenhos técnicos de porta-caça (corte e planta)
SOBRE OS AUTORES

O Atelier Barão-Hutter, com sede em St. Gallen, Suíça, foi fundado em 2010 por Ivo Barão (1986), que estudou na Faculdade de Arquitetura do Porto e na Accademia di Architettura di Mendrisio, e por Peter Hutter (1984), que fez o curso no Instituto Federal Suíço de Tecnologia de Zurique e na Accademia di Architettura di Mendrisio. O seu trabalho destaca-se por incluir equipas multidisciplinares de artesãos e artistas. Ambos integram a Federação dos Arquitetos Suíços BSA-FSA desde 2015, por convite.

www.barao-hutter.com




SOBRE O LUGAR

Outrora sede de bispado, Valença é uma cidade do Alto Minho. É aqui que se encontra um dos monumentos românicos mais importantes do país: a Igreja de Sanfins. As primeiras referências reportam a 604 d.C. Trata-se de um importante exemplar de um românico com referências galegas. Estrutural e artisticamente, a Igreja de Sanfins permanece fiel ao chamado Românico do Alto Minho e à influência galega. A nave única, desproporcionalmente alta, acentua a monumentalidade cenográfica do conjunto, em detrimento da sua real espacialidade. A capela-mor é a parte mais importante. A Ordem Beneditina e a Companhia de Jesus marcaram a vida deste templo. A existência de um nártex, adossado à fachada principal, levanta a hipótese de o mosteiro ter pertencido, também, aos Cónegos Regrantes de Santo Agostinho. No século XX, atuou-se apenas sobre a igreja, tendo-se demolido o nártex e outros espaços anexos e ampliado toda a envolvente, de forma a garantir maior monumentalidade à igreja. Desde 1910, é Monumento Nacional. O Mosteiro de Sanfins foi a cabeça do antigo Couto Monástico de Sanfins que englobava as freguesias a norte do concelho e que perdurou até 1834. A sua importância mereceu várias cartas regias de privilégios.


Mosteiro de Sanfins, Valença
Implantação das peças